A intensidade cromática de Maria Lynch
A essência de Maria Lynch, artista visual de arte contemporânea, está nas paredes das galerias do 1º andar do Centro Cultural Justiça Federal. As telas, cheias de personalidade e cores, se reúnem para montar a exposição Infinitos - Pinturas recentes de Maria Lynch, que fica no CCJF até o dia 16 de fevereiro de 2025. Abaixo, uma conversa com a artista sobre carreira, processo criativo e as obras da mostra.
CCJF: Como foi o processo criativo de produção das 20 obras selecionadas para a exposição Infinitos - Pinturas Recentes de Maria Lynch? Todas elas são pinturas em telas, de diferentes tamanhos e formatos? Haverão obras inéditas?
Maria Lynch: Exato, todas elas são pinturas, de diferentes formatos. Quase metade das obras da exposição Infinitos, que está no Centro Cultural Justiça Federal desde o dia 9 de novembro de 2024, são totalmente inéditas. Na nova série chamada “Fragmentos”, comecei desconstruindo mais esses campos de cor e imagem.
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Sobre o tema, um complemento. De acordo com texto de divulgação sobre o trabalho recente, enviado pela artista para a equipe de Comunicação do CCJF, Lynch “cria cenas e lugares improváveis, imagens fragmentadas que remetem a situações impossíveis. Com uma intensidade cromática em que o fantástico abre espaço para acessos do inconsciente. Através da fissura do absurdo, um mundo onde tudo é tátil e curvo. ‘Fragmentos’ permite a evocação desses espaços, tanto da memória como da percepção de mundo. São estados impermanentes, onde é possível desconstruir os códigos e o pré-estabelecido.
A obra se constrói a partir da intercessão com o outro, a permissão de deixar essa obra atuar nos campos sutis. Tanto no corpo como no imaginário, as formas vão surgindo através da remota percepção de si e de suas fantasias ali projetadas”.
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CCJF: Ao completar 20 anos de carreira nas artes visuais, certamente é natural pensar em como foi seu processo de construção como artista. Qual a maior lição aprendida nessas duas décadas?
ML: Sim, é um grande percurso, entre estudar, fazer pós e mestrado em Londres, residências artísticas várias, uma que inclusive me fez passar 4 anos em Nova York.
Poderia fazer uma metáfora sobre o que aprendi nesses últimos 20 anos de vida, porque temos uma oportunidade de olhar para o passado e ver tudo como uma totalidade, uma instância — tudo precisa ser percorrido, os dissabores e as conquistas, essas últimas nos alegram mas não podemos esquecer quando estamos vivendo os momentos desafiadores pois aquilo vai te levar para algo mais potente.
A construção do processo artístico é pensando junto a existência, ela se faz em cada instante, no decidir fazer, são acontecimentos encarnados que eu brinco.
CCJF: O que o público pode esperar da mostra Infinitos? Sabemos que arte é subjetiva, pessoal e interpretativa, de acordo com a experiência e olhar de cada um. Porém, é possível citar uma identidade única na qual o público poderá perceber no conjunto das obras?
ML: Sim, acredito muito na função da arte como um lugar de transformação; um encontro que impacta e adentra o outro de forma sutil e sensível. No caso do meu trabalho, a ideia é fazer com que a pessoa pelo menos sinta que ela está para além do ser da civilização, que nos afasta do que somos...argamassas de sensações e devires talvez defina um pouco mais essa nossa experiência de vida. Enquanto isso, ficamos tentando caber em algo que nos determina, mas não somos seres determinados, onde habita o mistério e desconstrução de si.
CCJF: No texto do curador Evandro Salles, por exemplo, ele interpreta suas obras como uma "arquitetura orgânica", na qual cada cor/coisa existe para completar a outra, até as ausências fazem sentido. Ele intitula essa ideia como "estrutura do mundo". Segundo Salles, “as coisas se interpenetram, são indissociáveis, se diluem umas nas outras. Se articulam nas suas falas, nas suas vozes. Tudo fala. Tudo é linguagem." Você compartilha dessa visão?
ML: Exatamente, Evandro fala sobre isso através de metáforas, eu que já perdi um pouco o pudor e já estou me refiro a essa essência de forma mais objetiva, tentando usar a linguagem.