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Mamirauá

Por
Maria do Carmo Rodrigues de Oliveira
A imagem mostra um macaco de porte médio e cor clara — e rosto vermelho —  andando em um galho de árvore.  A cor predominante da foto é o verde da mata. Acima do primata, em destaque, a palavra “Mamirauá”, na cor rosa alaranjado. Já abaixo da imagem, está a frase, em tamanho menor: Texto Thiago de Mello; Fotos Luiz Claudio Marigo.

MELLO, Thiago de. Mamirauá. Tefé: Sociedade Civil Mamirauá, 2002. 127p.

Um Registro Histórico do Mamirauá, por Cecília Marigo

 

“Estou voltando de Mamirauá. Definitivamente convencido de que o trabalho não é o preço que o homem paga para estar no mundo, mas uma forma de ajudar o mundo a ser melhor. Mamirauá é uma forma de amor.

Mas do que é que estou falando? Afinal, o que é Mamirauá, indagará o leitor” … “Mamirauá é a mais extensa unidade de conservação brasileira em área de várzea amazônica.” …

“Luiz Claudio Marigo, o admirável mestre da fotografia, a primeira pessoa que me falou, cheio de entusiasmo, de Mamirauá, de cuja vida ele vem participando, com a sua arte, desde que, faz uns vinte anos, nasceu em Márcio o sonho da Reserva.”

Thiago de Mello

 

Em 1983, o biólogo José Márcio Ayres chegou a Mamirauá para estudar o macaco uacari, objeto de sua tese de doutorado. Incentivado por seu amigo Luiz Claudio Marigo, que foi a seu convite duas vezes a Mamirauá para fotografar a área, Márcio redigiu uma proposta, acompanhada pelas fotos de Marigo, ao Governo Federal para a criação de uma área protegida. Atendendo a essa proposta, foi criada em 1986 a Estação Ecológica Mamirauá pela Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA), com cerca de 200.000 hectares. Era uma vasta área de várzea amazônica, habitada tradicionalmente por ribeirinhos. Mas para que se pudesse manter a população local em seu ambiente, foi criado em 1990 um novo tipo de reserva pelo Estado do Amazonas, e a unidade passou a ser denominada Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, expandida para 1.124.000 hectares.

Mamirauá teve um grande espaço na mídia nacional e internacional, onde o papel de Luiz Claudio foi relevante, tendo publicado inúmeras matérias para divulgá-la. Por todo esse reconhecimento, o governo brasileiro, atendendo a um desejo de Márcio que se preocupava com a manutenção da reserva e sua continuidade para as futuras gerações, criou em 1999 o Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, que hoje é gerido através de um contrato de gestão com o Ministério de Ciência e Tecnologia e Inovação.

Pela determinação de seus fundadores, é que hoje o Instituto Mamirauá é uma instituição reconhecida mundialmente por seu trabalho em prol da conservação ambiental.

Desde a criação da reserva, foi implementado um plano de manejo que incluía a participação dos habitantes locais. Marigo ia todos os anos ao Mamirauá. Apaixonado por seu trabalho, embrenhava-se nas matas, rios e igapós, documentando a fauna, a flora e os ribeirinhos em sua vida diária. Fotografava com paixão e minúcia tudo o que encontrava, para revelar a incrível riqueza natural da região e torná-la conhecida, com o intuito, dele e do Márcio, de assim conseguirem apoio à implementação da reserva. Deixou um registro histórico da ação participativa das comunidades, fotografando assembleias onde eram decididos a vida e os destinos da reserva pelos pesquisadores e os habitantes, que acabaram se tornando fiscais naturais da região.

Luiz Claudio sempre teve um carinho muito especial pelo Mamirauá, e daí surgiu a ideia da publicação do livro MAMIRAUÁ, para deixar documentada, contada em prosa, verso e imagens, a história do Mamirauá.

Por sua iniciativa, e com o aval do Márcio, convidou seu amigo e poeta amazônico Thiago de Mello para conhecer a reserva e escrever sobre ela, o que ele fez lindamente, dividindo o texto em três partes: (1) o que é Mamirauá e seu histórico, (2) as pessoas importantes na reserva – ribeirinhos e pesquisadores – e (3) a experiência e encantamento dele na visita ao Mamirauá.

Eu fui a autora do projeto gráfico do livro e da diagramação, já que me incumbia, na época, das publicações do Mamirauá e fazia parte do seu conselho editorial. Fiz também a edição de fotografia. Minha ideia visual para o livro foi levar o leitor, através das fotografias, a uma viagem panorâmica pelo Mamirauá, também dividida em três partes: (1) rios e lagos, (2) a floresta inundada, e (3) os ribeirinhos. As imagens mostram Mamirauá em seus aspectos físicos – a imensidão e os detalhes da floresta de várzea amazônica, sua flora e fauna típicas – e os habitantes em seus afazeres na época da seca e da cheia.

Além do texto primoroso de Thiago de Mello, temos ainda um escritor e um biólogo prefaciando o livro com os textos: “O animal da floresta”, de Carlos Heitor Cony – sobre o poeta – e “Mamirauá: construção e prática de um conceito de sustentabilidade”, de Eduardo Martins – sobre Mamirauá como um novo conceito de unidade de conservação, um exemplo que merece ser replicado na região e em outros ecossistemas do país.