Exposição Corpo/Palavra, de Maurício Planel, celebra a linguagem da colagem nas artes visuais
O universo da colagem é infinito, além de ser extremamente criativo. A partir de fotos antigas e partes de um catálogo, por exemplo, ou de fragmentos de palavras ou imagens, o colagista mistura temas e texturas, transformando o material em obra de arte. Celebrando a linguagem da colagem nas artes visuais, o artista Mauricio Planel reuniu obras inéditas — incluindo além decolagens tradicionais, sketchbooks (1) , vídeo-colagens e assemblages (2) — , na exposição Corpo/Palavra, que fica no Gabinete de Fotografia do Centro Cultural Justiça Federal (CCJF) até dia 29 de setembro.
As artes revelam como a mistura de parte de palavras e imagens pode se combinar para criar novas narrativas e significados. Para Planel, a mostra é uma lembrança da importância do diálogo entre as pessoas, de encontrar encaixes que possam somar para uma sociedade mais plural e democrática entre os recortes das visões tão diferentes sobre o mundo. Ele conta que no processo criativo da collage realizam-se encontros improváveis para um objetivo maior e indica transpor essas ideias para o cotidiano. “Podemos e devemos transferir essa forma de pensar e agir no nosso dia a dia”, ressalta o colagista.
A abertura do evento, que ocorreu no dia 31 de agosto, foi um sucesso. Tabata Hellen, visitante da exposição, elogiou o trabalho de Planel e destacou a importância do relacionamento no mundo das artes para o crescimento artístico. “Às vezes, a arte é individual mas, outras vezes, a gente precisa compartilhar esse ‘fazer da arte’. Ver o ‘por trás da obra’, como ela é feita, como o artista começou a pensá-la…é aí que mora obrilho da arte. Estou adorando a exposição e espero que outras pessoas venham ver também pois está linda”, disse. Sandra Mourão, que também prestigiou o primeiro dia da mostra, concorda com Tabata. Ela pôde observar, por meio das obras de Planel, como são amplas as opções de materiais que podem ser utilizados em uma colagem. “Há muita coisa que não imaginamos que vá fazer um efeito incrível na colagem, mas faz. Fica perfeito. O artista já deu umas dicas para gente, falou sobre o gesso acrílico, etc. Estamos trocando experiências, já surgiram ideias de criação na minha cabeça, estou amando”, conta Sandra, animada.
Planel, que também expôs seus trabalhos em São Paulo, Peru, Estados Unidos e Polônia, destaca o quão gratificante é expor seu trabalho em um centro cultural histórico na cidade do Rio de Janeiro. “É um espaço que abriga das artes clássicas até as mais inovadoras, e isso tem bem a cara da collage, transitar entre o antigo e o novo”, ressalta. Em um prisma mais amplo, sobre a contribuição da colagem nas artes visuais, o artista explica que ela contribui para a linguagem contemporânea. “A collage está nas galerias, meios de comunicação e nas ruas. Vamos cortando e colando pedaços de imagens com histórias muito diferentes. À primeira vista seria impossível que elas se combinassem, mas sim, unidas, contam muitas histórias e fazem perguntas para o público”, completa. Ludmilla Zeger, aluna de Planel que visitou a exposição no último dia 31, destaca que uma das características principais da colagem é a facilidade de encontrar materiais para a construção de uma obra. “É uma arte muito acessível porque temos os recursos visuais à nossa disposição hoje em dia através de jornal, revista, fotografias, catálogos, é uma fonte inesgotável de inspiração”. Além disso, do lado emocional, a arte a ajudou a superar momentos difíceis da vida. Ela conta que estava em um momento pessoal conturbado quando conheceu as aulas de Planel e acabou descobrindo a colagem e encontrando sua voz. “Acho que ele é um curador de histórias, cada quadro que a gente vê aqui conta uma história. A colagem é isso, a arte de reunir diferentes elementos e acabar construindo uma narrativa”, pontua.
(1) bloco em branco para desenho usado por artistas como parte do processo criativo
(2) montagem ou colagem em que o artista expressa seu imaginário