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Um porto para o Rio: imagens e memórias de um álbum centenário

Por
Maria do Carmo Rodrigues de Oliveira
A imagem em tons beges, aparentando ser foto antiga, mostra parte de um grande navio do lado esquerdo, com uma escada para acessar o local. Ao lado dele, pessoas caminham em uma rua larga. Acima delas, a frase, em cor escura: “um porto para o rio”. Há palavras menores acima e abaixo da frase principal, mas são inelegíveis na imagem.

TURAZZI, Maria Inez (Org.). Um porto para o Rio: imagens e memórias de um álbum centenário. Maria Teresa Villela Bandeira de Mello. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2012.

Os textos e as imagens do livro Um porto para o Rio oferecem-nos um percurso visual pela área portuária da cidade do Rio de Janeiro nas primeiras décadas do século XX. A obra reproduz e contextualiza um conjunto de fotografias do Álbum das Obras do Porto do Rio de Janeiro, pertencente ao acervo do Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro (APERJ).
A organização do volume e o texto que assino tiveram como motivação central a compreensão do modo como esse conjunto de fotografias, produzido por encomenda da Inspetoria Federal de Portos, Rios e Canais, integrava o esforço de construção e visibilidade da máquina do Estado nacional, notadamente entre os anos de 1903 e 1913.
O Álbum das Obras do Porto do Rio de Janeiro, com o tamanho de 33 x 42 cm, reúne cem fotografias, em sua maioria no formato 24 x 30 cm, que pela primeira vez estão sendo publicadas na íntegra. Elas não possuem qualquer inscrição, carimbo ou assinatura do autor das imagens, mas através de levantamentos fotográficos em outros acervos, onde encontramos a inscrição “EMYGDIO RIBEIRO – PHOTOGRAPHO” em imagens idênticas, e de pesquisas complementares em diversas bibliotecas e arquivos, chegamos a três personagens essenciais na produção desse “monumento visual”: Emygdio Ribeiro, a quem devemos o registro fotográfico das obras de modernização do porto do Rio para a Inspetoria Federal de Portos, Rios e Canais; Adolpho José Del Vecchio, inspetor federal responsável por essas obras e autor da dedicatória que precede o volume; e José Barboza Gonçalves, ministro de Viação e Obras Públicas, a quem o álbum foi ofertado em 31 de outubro de 1913.
Com este livro, enfim, acredito que possam ficar mais evidentes as combinações, continuidades e rupturas de processos históricos bastante complexos na área portuária do Rio de Janeiro, entre os séculos XIX e o XXI. Observando esse espaço central da cidade com uma temporalidade mais ampla, estabelecemos infindáveis conexões entre a vida marítima do Rio, o ritmo frenético de seu porto e a alma sedutora de sua gente.

Maria Inez Turazzi
Rio, 11 de abril de 2013