
Um clamor pelos Direitos Humanos: show potente de Zilá Lima ecoa resistência e esperança

Na penumbra do Teatro do Centro Cultural Justiça Federal (CCJF), na última sexta-feira de agosto (29), o público aguardava o começo de um show potente — tanto na qualidade musical quanto na mensagem intrínseca nas letras e na sonoridade do repertório. Na abertura de Zilá Lima - Cantando Memórias pelos Direitos Humanos, uma mensagem poderosa chamou a atenção dos presentes. Nesse decreto simbólico produzido especialmente para a ocasião, Zilá, cantora, compositora, berimbalista e ativista cultural, reafirmou a memória como ato de reparação e reforçou os direitos humanos como prática viva, ressaltando a importância da Declaração Universal dos Direitos Humanos, proclamada em 1948, do Dia Nacional dos Direitos Humanos, instituído no Brasil em 2012 como marco da resistência e denúncia, em memória de Margarida Alves, líder sindical paraibana que enfrentou o latifúndio e o trabalho escravo e foi incansável na luta por justiça social, e o Dia Nacional da Visibilidade Lésbica, em prol da diversidade — pelo direito de ser, amar e existir —, comemorado em 29 de agosto.
Ao som “do gunga, do médio, do viola, dos tambores; cordas, sopros e vozes”, Zilá e sua banda, composta pelo Mestre Pedro Lima (percussão) e Marcelo Aragão (violão e percussão), performance de Veronica Pereira e participações de Ana Cruz (flauta), Mestranda Juma (berimbau), Joice Fernanda (berimbau), Alcides Sodré (voz), Débora Motta (voz) e Michele Agra (voz), propuseram um encontro entre memória, arte e justiça. Uma verdadeira travessia musical, cultural e poética por temas como liberdade, dignidade, diversidade e justiça social, conectando ritmos afro-brasileiros, ancestralidade e canções que ecoam resistência e esperança.
Além das 16 canções autorais da artista e mais quatro canções de domínio público, o espetáculo também contou com performances de dança, ampliando a força cênica e celebrando a diversidade de expressões artísticas que dialogam com a memória e os direitos humanos. Para Zilá, estar no palco do CCJF foi uma imensa emoção. “Desde as tratativas prévias com as diversas equipes envolvidas, em especial o Setor de Música e o Setor de Educação, até o encontro com o público, cada etapa foi marcada por cuidado, escuta e colaboração. Esse caminho favoreceu a construção de uma noite inesquecível”, conta.
Além do show, pouco antes da apresentação, a produção do evento promoveu uma rica experiência para um grupo de 15 crianças, jovens e adultos, alunos de capoeira da professora Bárbara Ribeiro, moradores da comunidade Nova Aurora, em Belford Roxo, Baixada Fluminense. Eles fizeram uma visita pelo prédio histórico, orientada pelo Educativo do Centro Cultural. A iniciativa, que ajuda a democratizar a cultura e a arte, faz parte de uma ação de acessibilidade à cultura do projeto Cantando Memória.

Bárbara, conhecida como "Lebre" na capoeira, contou que todos ficaram encantados com o passeio. “Para eles foi maravilhoso, pois viram uma realidade que talvez muitos não teriam a oportunidade de conhecer. Eles ficaram encantados com o local, a Zilá pensou em todos os detalhes da visita. Teve lanche, eles fizeram uma visita guiada pelo prédio e isso foi muito importante”, diz Bárbara. Para Kayo Victor Oliveira, um dos alunos do grupo, o show da "Vermelha", como Zilá é conhecida na capoeira, foi uma das coisas mais lindas que ele já presenciou. “Pude ver todo o trabalho dela, o carinho, o jeito que ela tratou a gente. Me sinto muito honrado em fazer parte do mesmo grupo de capoeira que ela. É capoeira. Vamos para cima!”, exclamou Kayo. Enzo Gabriel dos Santos, colega de capoeira de Kayo, também manifestou gratidão pela oportunidade. “Gostei muito do show da tia Zilá. Agradeço pela visita. Nunca tinha ido ao Centro Cultural antes. Vi que o nosso país tem uma riqueza cultural grande em que nós, muitas vezes, não temos acesso. Aprendi muito com os guias que deram muita atenção para a gente e tiraram nossas dúvidas. Gostei de tudo, do show a roda de capoeira. Só tenho que agradecer pelo carinho", concluiu.
Do início ao fim, uma experiência para ficar na memória. O espetáculo terminou em festa e celebração coletiva, com um cortejo até o hall do CCJF que se transformou em roda de capoeira e samba de roda, convidando artistas e público a se unirem e se sentirem parte da caminhada em defesa dos direitos humanos. "Ter a oportunidade de apresentar esse trabalho em um espaço que se abre à música independente, a diferentes ritmos e a causas urgentes como os direitos humanos, fortalece nosso compromisso de seguir cantando memórias e semeando caminhos de transformação. Levo comigo a energia vibrante daquela noite e a certeza de que a arte é, sempre, encontro e movimento de vida", conclui Zilá. Que sigamos assim!
*O projeto Zilá Lima - Cantando Memórias pelos Direitos Humanos tem como produto um álbum totalmente autoral chamado “Cantando Memórias” disponível nas plataformas digitais. Para mais informações, sigam a artista via Instagram: @zilalimacanta