Trilhando Afrocuidado: um dia de resistência, conexão e celebração
Trilhando Afrocuidado, evento que fez parte da Mostra Cultural Consciência Negra do Centro Cultural Justiça Federal (CCJF), comemorou, nesta edição, um ano de atuação e relevância na celebração de cuidado a corpos negros. O projeto, idealizado por Giovane Oliveira, foi pensado como uma oportunidade de relaxamento, tranquilidade e troca de afetos. “É um momento em que podemos deixar lá fora todas as nossas questões difíceis, chegarmos aqui e relaxarmos, ouvirmos palestras e oficinas que somam para nós, pessoas pretas. É o momento de quem cuida ser cuidado”, destaca Giovane na abertura do evento. Com a presença de artesãos afroempreendedores, palestrantes e, ao final, um desfile de moda sustentável e uma animada roda de samba para celebrar a vida, o evento, realizado no Centro Cultural Justiça Federal no domingo, 10 de novembro, contou com aproximadamente 100 participantes.
Em entrevista ao CCJF, a palestrante Jacineide Soares — que faz parte do Coletivo Colo de Mãe Preta, organização de mulheres que se acolhem e se fortalecem contra o racismo —, ressalta a importância da iniciativa. “É fundamental termos eventos como esse, em que a gente consegue se reconectar, fazer networking, encontrar empreendedoras, apoiar os trabalhos de outras irmãs, que muitas vezes estão dentro de suas comunidades desenvolvendo trabalhos incríveis, mas que não tem espaço de mídia”, pontua.
Com temáticas amplas e diversas, as palestras de Evelin Moura, defensora na luta de mães que perderam seus filhos por negligência do Estado, e Tatianna Mattos, terapeuta corporal e sexual, tiveram um destaque especial. Uma após a outra, ambas falaram sobre assuntos tão enriquecedores e, ao mesmo tempo, excepcionalmente divergentes. Evelin promoveu uma reflexão sobre o luto por perder seu filho, Moreno Moreira Nascimento. A fatalidade virou sinônimo de luta. O óbito causado por negligência médica a fez perdê-lo e lhe deu combustível para assumir as rédeas de uma batalha que não é apenas sua, mas também de muitas mães vítimas de inúmeros e brutais assassinatos dos respectivos filhos, mortos por uma sociedade que não enxerga nada além da cor da pele.
Já Tatianna, se viu sem jeito em assumir a roda de conversa após uma temática tão profunda como a de Evelin Moura, mas, mesmo assim, engrandeceu sua presença e convidou todos os visitantes a sentirem a energia de seus corpos sem nenhum tipo de pudor. O exercício corporal foi uma dança em um ritmo pouco convencional, ao som de uma música lenta e com os olhos fechados. Trilhando Afrocuidado foi mais um dia dedicado a agradecer a ancestralidade afro e celebrar a raça negra.