Por trás das Câmeras: a vigilância tem um alvo
No dia 22 de novembro, vozes potentes de artistas e especialistas preencheram o Cinema do Centro Cultural Justiça Federal (CCJF) em uma relevante discussão sobre o uso crescente de tecnologias de vigilância no Brasil a partir dos curtas-metragens Toda câmera de reconhecimento facial tem um pouco de navio negreiro e Sorria, você está sendo vigiado.
A conversa foi mediada por Pablo Nunes, coordenador do Centro de Estudos de Segurança Pública e Cidadania (CESeC), e conduzida pela designer Iane Cabral. O debate contou também com a participação do cineasta Jonas Feitosa, que produziu a arte inicial do curta Toda câmera de reconhecimento facial tem um pouco de navio negreiro, Vinicius Fernandes, cineasta e pesquisador do Data Privacy, e Yasmin Rodrigues, antropóloga e pesquisadora do CESeC.
Neste dia, as paredes do CCJF testemunharam, logo no mês da Consciência Negra, vozes que não apenas levaram mais de 40 pessoas para o cinedebate, mas que também ameaçam banir a aplicabilidade do uso de uma inteligência artificial que não protege suas raízes. Assim como a sociedade brasileira atual, o negros estão na mira de mais um artifício que mascara o racismo na “segurança pública”. Segundo os palestrantes, essas tecnologias de reconhecimento facial são fruto de uma perspectiva de espionagem que já têm um alvo pré-estabelecido em seu banco de dados. A discussão seguiu um rumo diferente dessas tecnologias, que tendem a ser taxativas. Foi a vez do diálogo ser o foco. Para os especialistas, o que é exigido não é o fim de tecnologias para a segurança pública, mas sim o fim de tecnologias para a segurança pública que não acompanham o desenvolvimento social e que tem na mira pessoas que, diariamente, lutam apenas para sobreviver.
De acordo com a palestrante Yasmin Rodrigues, há muitas formas de imaginar um futuro possível e, certamente, a arte é uma delas. “Acreditamos que a arte tem poder de fazer as pessoas criarem, refletirem, explorarem a criticidade e, por isso, o CESeC tem apostado nessa linguagem como forma de abordar os dados das pesquisas que realizamos e de fazer chegar a mais gente a importância da defesa dos Direitos Humanos, com muita urgência no campo da segurança pública. Quando vivemos cercados de tragédias e violações de direitos, é fundamental resgatar o que em nós quer criar um mundo novo. Nossa passagem pelo CCJF marca um passo importante de um caminho longo que vai nesse sentido", destacou.