
Por dentro do CCJF. Entrevista com Edvaldo Júnior

A ideia da série Por Dentro do CCJF é trazer, a cada mês, um curto bate-papo com um convidado(a), inspirado naquelas boas prosas que acontecem na hora do café e que, muitas vezes, dá uma leveza no dia a dia.
Neste mês, a Vitral traz a segunda conversa da série que estreou na última edição da newsletter. Dessa vez, o convidado para o bate papo virtual é o arquiteto Edvaldo Júnior, servidor do Setor de Restauro e Preservação Predial do Centro Cultural Justiça Federal.
Ele fala sobre escolhas na carreira, funções que exerce no cargo e ainda conta uma curiosidade histórica intrigante sobre as grandes portas de madeira, entalhadas pelo artista Manuel Ferreira Tunes, que emolduram a frente do Centro Cultural. Confira abaixo:
VITRAL CULTURAL: O que te fez escolher a profissão de arquiteto e urbanista, e além disso, ingressar na carreira pública?
Edvaldo Júnior: Quando eu era bem pequeno, me lembro de falar para a minha avó materna que queria construir uma casa para ela. Por causa disso comecei a me interessar pelas construções desde pequeno. Eu sempre gostei muito de como a cidade se desenvolvia, os arranha-céus do centro da cidade em contraste com as construções das casas de tijolo nos morros do Rio de Janeiro. Tudo isso me fascinava…
Com o passar do tempo fui me interessando mais pelas formas de construção do Brasil e do mundo e comecei a me interessar pela funcionalidade das construções. Via que muitas moradias eram bem bonitas e funcionais, enquanto outras eram mais humildes e menos funcionais. Isso me incomodava. Apesar disso, meus caminhos acabaram me levando a estudar engenharia elétrica. Estudei engenharia por três anos, mas tudo aquilo não fazia muito sentido para mim. Então, querendo mudar de curso, fui conhecer mais sobre a engenharia civil e a arquitetura e me apaixonei pela arquitetura!
Já vendi frutas na praia quando era universitário e trabalhei com vendas, representação, entre outras coisas para poder ganhar dinheiro. No fim, acabei optando pela segurança no serviço público. Trinta anos depois de formado aqui estou eu (risos).
VITRAL: Quanto tempo você trabalha no CCJF e quais suas principais funções?
Júnior: Eu entrei no CCJF há 23 anos, mas em 2013 fui convidado para trabalhar como Diretor da Subsecretaria de Obras e Manutenção Predial do Tribunal Regional Federal 2ª Região (TRF2) onde fiquei até 2015. Depois, trabalhei por um período na gráfica do Tribunal e por fim retornei ao CCJF.
Hoje sou o responsável pelo Setor de Restauro e Preservação Predial do CCJF e minha função é ajudar a manter a integridade do prédio, preservar as características que fizeram o prédio do CCJF ser tombado pelos órgãos de patrimônio histórico municipal, estadual e federal.
Em 2025, se tudo der certo, serão realizadas várias contratações como: restauro de parte dos ladrilhos hidráulicos do prédio, da fachada frontal e das portas monumentais do prédio, recuperação da claraboia de vidro, etc. O Setor de Restauro será responsável por fiscalizar cada um desses contratos. Também sou responsável pelos pareceres técnicos para todos os eventos que o prédio recebe, seja no teatro, cinema, Sala de Sessões ou biblioteca.
VITRAL: Conte-nos alguma curiosidade ou caso que considere memorável, seja profissional ou pessoal?
Júnior: Tem um caso muito interessante...anos atrás, durante o restauro das portas entalhadas de madeira que ficam na entrada do prédio, o restaurador George Sliachticas verificou que havia algo estranho em uma das esculturas da justiça entalhada em madeira maciça que fica no topo da porta. Observando mais de perto, ele verificou que haviam emendas atrás da cabeça, nas costas e abaixo do queixo da estátua. As emendas estavam bem fixadas com parafusos. Então, o Sr. George reparou que no interior da cabeça da estátua, nas costas e abaixo do pescoço haviam partes ocas! Existem duas possíveis explicações para isso:
A primeira é que, provavelmente, esses tipos de esculturas em madeira maciça eram escavadas para que as peças rachassem menos e ficassem mais leves.
A segunda explicação tem a ver com a expressão “santo do pau oco”. Segundo o professor Meneses de Oliva, do Museu Histórico Nacional, citado por Antenor Nascentes em seu livro Tesouro da Fraseologia Brasileira, o termo se origina da descoberta, na cidade de Salvador, de imagens ocas de santos que vinham de Lisboa, recheadas de dinheiro falso. Tanto eu como o Sr. George acreditamos que as nossas portas monumentais se encaixam na segunda hipótese, mas na verdade nunca saberemos com certeza…(risos).