
O que literatura feminina e saúde mental têm em comum?
Depressão, ansiedade, bounout e uma infinidade de doenças que afetam a saúde mental da população. Tratar do tema, na sociedade atual, é urgente, já que os transtornos de saúde mental afetam cerca de um bilhão de pessoas no mundo, segundo novos dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Para discutir o tema, a Sala de Leitura do Centro Cultural Justiça Federal (CCJF) recebeu, no dia 6 de setembro, o evento Literatura Feminina e Saúde Mental. No encontro, organizado pelas escritoras Beatriz Ras, Nicole Ayres e Carolina Pessôa, os participantes tiveram a oportunidade de conhecer como a literatura trata das questões de saúde mental, relacionando obras clássicas do gênero com obras contemporâneas. Entre os assuntos destacados, a transição da fase jovem para a vida adulta e a internação, considerando um detalhe: o ponto de vista feminino, já que todas as obras citadas no encontro foram escritas por mulheres.
Antes mesmo da data do evento, uma surpresa quanto ao número significativo de inscrições, um sinal de que o tema atrai a atenção e mexe com o público. “Ficamos surpresas ao receber tantas inscrições! É muito importante falar sobre saúde mental numa sociedade tão adoecida, repleta de casos de depressão, ansiedade e burnout. E a arte, em especial a literatura, nos ajuda a lidar com essas questões.” ressalta Nicole. Segundo ela, por meio das personagens, sejam reais ou ficcionais, é possível entender melhor como funciona a mente de uma pessoa em crise, a internação e o processo de cura. “Isso é ainda mais significativo quando falamos do universo feminino, mas abrange todas as pessoas”, explica a escritora.
Ao conhecer e debater obras como Reino dos bichos e animais é o meu nome (2001), de Stella do Patrocinio, e Os montes da Louca (1997), de Marisa Wagner — que trabalharam questões como a violência, a angústia e a tentativa de apagamento do sujeito no processo de institucionalização —, ou outras que abordam experiências reais de mulheres em sofrimento psíquico como Dez dias em um manicômio, de Nellie Bly; Garota, interrompida, de Susanna Kaysen; e Dançando na Varanda, de Nicole Ayres, além de Por Lugares Incríveis (Jennifer Niven) e A Redoma de Vidro (Sylvia Plath), que mostram os desafios dos personagens diante das transformações da vida jovem e adulta, com seus traumas e sofrimentos diante das mudanças vividas, foi possível debater o ato da criação como ferramenta de enfrentamento de tais questões. Afinal, se ninguém está imune a uma crise emocional, o que se pode fazer para preveni-la ou enfrentá-la com mais acolhimento e humanidade?
A resposta para a indagação acima não é trivial, mas se abriga na busca por informações úteis, autoconhecimento e tratamento adequado, pela escuta e compartilhamento de experiências. Foi um pouco do que ocorreu no Literatura Feminina e Saúde Mental. Sobre a realização do evento e abertura do espaço, Carolina acredita que o encontro tenha contribuído bastante para a reflexão dos participantes sobre a saúde mental e como ela se relaciona com a literatura feminina, especialmente após o debate realizado ao fim do evento. “Este tema tem estado em pauta com destaque na mídia e no dia a dia das pessoas, por isso acredito ser de grande importância uma instituição como o CCJF sediar uma palestra abordando o assunto”, destaca. Ela espera que os questionamentos levantados se multipliquem e ajudem na formação de uma sociedade mais consciente sobre a relevância do assunto.