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Mostra Mulheres em Cena, realizada pelo CCJF, dá voz a histórias de amor, alegria, sofrimento e luta feminina

Publicado em:
10/04/2025
Arte gráfica com fundo rosa e silhuetas de perfis femininos sobrepostos em tons variados de rosa e roxo. Em destaque, os dizeres 'mostra MULHERES EM CENA', com 'mostra' em fonte pequena amarela, 'MULHERES' em laranja e 'EM CENA' em amarelo. A imagem celebra a diversidade feminina de forma artística e vibrante.

A presença feminina na produção artística — no Brasil e no mundo — sempre exerceu fundamental influência no desenvolvimento cultural. Elas dominam, com criatividade e talento, a arte da pintura, da dança, da música, da escultura, do teatro, do cinema e da literatura. Exemplos não faltam: a pintora e desenhista, ícone do modernismo, Tarsila do Amaral, a escritora premiada Clarice Lispector e a compositora e instrumentista Chiquinha Gonzaga, todas brasileiras e protagonistas da história cultural do país que quebraram inúmeras barreiras rumo à conquista da equidade de gênero. Após grande progresso, as mulheres seguem transformando a cultura e ainda lutam por mais espaço na sociedade, em todos os aspectos. O que elas estão produzindo na cena cultural brasileira, atualmente? Para responder essa pergunta, o Centro Cultural Justiça Federal (CCJF) apresentou, no mês de março, a Mostra Mulheres em Cena. Em comemoração ao Mês das Mulheres, foram oferecidos espetáculos de teatro, música, obras cinematográficas e mesa de debate com a temática feminina. O objetivo foi ampliar o acesso do público a tais projetos, destacando a importância da contribuição da mulher no meio artístico. Parte das atrações que fizeram parte dessa iniciativa estarão registradas nesta edição da Vitral Cultural.

Confiram, nos próximos textos, mais sobre algumas das atrações que fizeram parte da Mostra: o espetáculo teatral Carne de Segunda, a Mesa Mulher, Poder e Democracia, o Cine Clube Zezé Motta e as apresentações musicais Copas Fora, de Luísa Lacerda, Acordes Vocais e Mulher Forrozeira.

Cena teatral com iluminação focada em uma atriz no palco, vestida com roupa clara. Ela está em pé ao lado de um móvel vermelho com detalhes em preto, enquanto todo o restante do ambiente permanece escuro. A luz destaca apenas a atriz e parte do cenário, criando um clima dramático e intimista.
No palco, a atriz Tatjana Vereza interpreta uma açougueira julgada pela pequena cidade onde vive depois que seu marido é assassinado

Carne de Segunda: o palco como forma de denúncia

Nos dias 21, 22 e 23 de março, o Teatro do Centro Cultural Justiça Federal (CCJF) recebeu, dentro da programação da Mostra Mulheres em Cena, o espetáculo Carne de Segunda, um monólogo com direção de Natasha Corbelino, atuação e idealização de Tatjana Vereza, que também coordena o projeto. Baseada no livro Açougueira, de Marina Monteiro, a peça é um verdadeiro testemunho de uma mulher vítima da própria história. 

A protagonista, moradora de cidade pequena, decide tomar as rédeas da sua própria vida ao se tornar açougueira. Em um lugar que de forte só as opiniões de quem move os dedos apenas para apontar defeitos do próximo, a mulher passa a lidar com os julgamentos que surgem após ela resolver  não mais seguir um roteiro escrito por outras pessoas. Condenada pela morte do marido — destrinchado como um animal no açougue —, a protagonista encoraja o público a enxergar a verdadeira vítima dessa história que, infelizmente, não acontece apenas nos palcos. Manuseando uma massa branca, Tatjana estimula a imaginação do público e provoca múltiplas interpretações para uma história que a maioria já deduz o desfecho.

Julgada por suas escolhas, silenciada ao sofrer violência e culpada pela morte do marido, o espetáculo retrata a vida de uma mulher — um exemplo, assim como tantos outros da sociedade —  que decide assumir o rumo da própria vida, mas acaba sendo limitada por olhos (e vozes) que a observam, dentro de um ambiente que faz parte de uma estrutura machista criada para que ela não tenha poder sobre si. Carne de Segunda ilumina uma história quase sempre apagada, uma história que precisa reverberar para além das paredes dos teatros para que seja ouvida e, principalmente, jamais esquecida. 

Tatjana ressalta a importância de ocupar um lugar tão importante na programação do CCJF do mês de março, um mês de luta e, principalmente, de celebração aos avanços e conquistas de pautas femininas. “Estar em um centro cultural, onde a palavra justiça tem seu peso, deu um novo contorno a apresentação desse espetáculo. Perceber que cultura e justiça podem caminhar juntas nos fez pensar que trazer projetos em que mulheres estejam à frente de suas histórias, pontuando as violências que atravessam nossos corpos, possa ser o caminho para pender a balança para o equilíbrio, para o que é justo. Assim, saímos agradecidas por ocupar um lugar tão importante que abriga e impulsiona projetos pertinentes ao nosso tempo”, declarou a atriz.

Cena teatral com iluminação focada em uma atriz no palco, vestida com roupa clara. Ela está em pé ao lado de um móvel vermelho com detalhes em preto, enquanto todo o restante do ambiente permanece escuro. A luz destaca apenas a atriz e parte do cenário, criando um clima dramático e intimista.
Da esquerda para direita, Elaine Pauvolid, Dra. Simone Schreiber, Geovana Pires, Carol Bispo e Daniela Pfeiffer palestram na Mesa Mulher, Poder e Democracia

Mesa Mulher, Poder e Democracia, realizada pelo CCJF, discute união de arte e justiça em prol de mulheres privadas de liberdade

Como a cultura, unida à justiça, pode inspirar a construção de uma sociedade mais preocupada com a formação do conhecimento do que com a punição e a violência? A resposta para essa pergunta não é trivial, ela perpassa uma série de desafios, como a luta contra o machismo estrutural e a desigualdade de gênero. Contudo, celebrar e incentivar a força e a capacidade das mulheres em qualquer espaço, seja ele um Tribunal, uma unidade prisional ou um teatro, por exemplo, se molda como um dos caminhos possíveis para garantir, de uma vez por todas, os direitos femininos. Para discutir o tema — tão importante nos dias de hoje —, a Mesa Mulher, Poder e Democracia reuniu, no último dia 27, na Sala de Sessões do Centro Cultural Justiça Federal (CCJF), mulheres que têm contribuído, de forma efetiva e inspiradora, para ajudar outras mulheres que estão em situação de encarceramento ou são egressas do sistema prisional.

Elaine Pauvolid, à época diretora da Divisão de Cultura do CCJF, mediou a mesa, recebendo a Dra. Simone Schreiber, desembargadora do TRF2 que, na ocasião, encerrava sua gestão como diretora-geral do CCJF, Carol Bispo, advogada e diretora executiva da Associação Elas Existem Mulheres Encarceradas, organização dedicada à defesa de direitos de mulheres afetas pelo sistema de justiça criminal, Geovana Pires, atriz da peça Perigosas Damas, diretora teatral e vice-presidente do Instituto Casa Poema, que entre outros projetos, utiliza a oratória e os poemas para auxiliar na ressocialização de mulheres privadas de liberdade e Daniela Pfeiffer, então diretora-executiva do CCJF, que liderou projetos dentro do Centro Cultural voltados a mulheres em situação de encarceramento. “A composição da mesa tem um propósito muito específico que é de marcar a preocupação do CCJF com o encarceramento feminino”, destaca Elaine, ao mencionar alguns dos projetos realizados pelo Centro Cultural voltado a este grupo de mulheres: a visita, em 2022, à exposição Ausência - Correspondência inédita” — composta por fotos e cartas bordadas de detentas — de Nana Moraes, projeto que virou um livro chamado Ausências, o projeto em parceria com a UFRJ e a Mostra Geração do Festival do Rio que realiza, periodicamente, exibição de filmes e debate dentro das unidades prisionais femininas Talavera Bruce e Oscar Stevenson, as palestras realizadas junto com a Associação Elas Existem nos últimos anos e o espetáculo Perigosas Damas, que esteve em cartaz no Teatro do CCJF no final de 2024. “Para todas essas ações, foi fundamental a contribuição de todas essas mulheres à mesa, que incentivam a empatia para/com as mulheres em situação de encarceramento que, muitas vezes, devido ao preconceito, são abandonadas por seus familiares no momento em que mais precisam de acolhimento”, pontuou Elaine.

Carol Bispo, da Elas Existem, falou sobre o preocupante cenário do sistema carcerário brasileiro, ressaltando que hoje são quase 50 mil mulheres nas prisões, sendo 72% delas cumprindo a 2ª ou 3ª pena. Para ela, esse difícil quadro poderia ser diferente caso essas mulheres tivessem uma escuta mais atenta, dentro e fora dos presídios, além de ferramentas efetivas que permitam uma boa ressocialização, no caso das egressas. “Se elas saírem sabendo que tem alguém que não vai julgá-las, fazendo acreditarem que é um momento, uma fase…porque elas não foram condenadas por privação de dignidade, e sim de liberdade. Sei que é possível modificar a realidade com uma escuta ou somente um ‘você existe’. A arte traz um lugar de conforto, de entender que vários mundos podem conversar. Eles não precisam falar a mesma língua, só precisam ser ouvidos”, completou Carol.

Além de corroborar com a opinião da Carol e destacar o papel da arte e cultura como libertadores, Dra. Simone também trouxe a visão dela sobre o tema, na condição de juíza federal, considerando o caótico cenário de superlotação nos presídios. “Creio que, dentro do sistema de justiça, o que se pode fazer pela população privada de liberdade é soltar as pessoas. Não consigo ver nenhuma solução dentro dos estabelecimentos prisionais. O discurso de que prisão reeduca e ressocializa é extremamente ilusório”, disse a desembargadora, ao destacar que em casos excepcionais, aqueles mais graves cabe, sim, a condenação à pena de prisão.

Geovana Pires, da peça Perigosas Damas, faz um trabalho social por meio da imersão poética, dentro dos estabelecimentos carcerários femininos. Segundo a atriz, a experiência de declamar poemas, inclusive para mulheres que não sabem ler, repetindo-os e absorvendo emoções, faz com que elas aprofundem as relações ali dentro, e consequentemente, se reduza os níveis de violência nestes locais. “O poeta é o grande tradutor dos sentimentos humanos, por isso acho que diminui o índice de violência. Quando você consegue falar, levanta a cabeça e quando isso acontece você consegue dialogar com o outro. Então, essas mulheres se fortalecem dentro daquilo que elas querem dizer”, explica a atriz.

Ao mencionar os projetos realizados nos últimos anos pelo CCJF, direcionados a mulheres encarceradas, Daniela Pfeiffer os define como uma gota no oceano frente a quantidade de pessoas que necessitam de ajuda, mas destaca que esse auxílio, junto com tantos outros de iniciativas semelhantes, pode ser o diferencial para mudar a vida de centenas de mulheres. Aproximadamente 700 detentas foram beneficiadas, por exemplo, com o projeto de cineclube em parceria com a Mostra Geração do Festival do Rio, e o projeto de dança Corpo, Gesto e Afeto, em parceria com a UFRJ e a UFF, que envolve grávidas e aquelas que estão em isolamento. “É uma gota, mas o que seria do mar sem ela, né? A gente acredita que esse trabalho está diretamente ligado à missão da instituição que tem como proposta unir justiça e arte, justiça e cultura”, reforçou no final do evento.
 

Na imagem, o cinema do CCJF com poltronas ocupadas por um público atento. Na frente, três mulheres estão sentadas em cadeiras, participando de uma conversa ou roda de debate diante de uma tela branca de projeção. O ambiente é acolhedor, com iluminação no teto e cortinas escuras nas janelas laterais.
Público participa do debate envolvendo os curta-metragens exibidos no Cine Clube Zezé Motta, no Cinema do CCJF

Cine Clube Zezé Motta: cinema, debate e emoção 

No dia 25 de março, o Centro Cultural Justiça Federal (CCJF) recebeu no Cinema o Cine Clube Zezé Motta, uma iniciativa cultural que promove exibições e análises de filmes socialmente significativos. No Mês da Mulher, nada mais justo do que o CCJF realizar um evento que carrega uma homenagem a uma das atrizes e ativistas mais importantes da história do Brasil: Zezé Motta, uma mulher que desafiou os estereótipos, conquistou espaços e que, hoje, é a figura central de um projeto que tem em suas raízes os mesmos objetivos.

Com a exibição de três curtas-metragens Rainha, Cabelo Bom e Mulheres da Independência, o cine clube convidou os espectadores a mergulharem no roteiro de vida de mulheres que, de todas as coisas que têm em comum, a principal delas é a luta. A sessão teve o apoio do Passaporte Cultural, que levou idosos da Secretaria Municipal de Assistência Social e Direitos Humanos e do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) de Duque de Caxias que assistiram quase que hipnotizados aos filmes, reagindo com risadas ou acenando com a cabeça quando a história projetada lembrava um pouco as suas próprias histórias de vida. As três palestrantes, Taíla Borges, superintendente de audiovisual e anfitriã do evento, Jordana Korich e Kelly Siqueira, diretoras do curta Mulheres da Independência, foram peças-chave do debate, respondendo pontualmente a cada pergunta feita e contribuindo com suas experiências.

Em meio ao relato intenso de uma das espectadoras do cine clube, Taíla Borges não se conteve e caiu em lágrimas. “Sendo em sua maioria pessoas negras, os espectadores sentiram-se representados pelos três filmes apresentados, fazendo uma conexão potente entre as obras. A roda foi enriquecida com suas vivências e experiências. Cada relato e história contada fazia uma emoção tomar conta do recinto. O público se sentiu acolhido e encantado tanto com a exibição como com o espaço do Centro Cultural Justiça Federal”, pontuou ela.

Se o objetivo do Cine Clube Zezé Motta era inspirar como inspira a artista Zezé Motta, expoente da cultura afro-brasileira, pode-se dizer que o projeto está seguindo o caminho certo. A sessão, dentro da programação da Mostra Mulheres em Cena, deixou claro que, mesmo a raça negra já tendo conquistado tanto após muita luta contra a discriminação, ainda há muito chão a pisar e muito espaço a pertencer. Zezé Motta é e sempre será sinônimo de resistência.

Apresentação musical no palco com sete mulheres tocando instrumentos como zabumba, triângulo, sanfona, flauta e violão. Todas estão vestidas com roupas claras, e o fundo é decorado com fitas coloridas penduradas. A iluminação cênica mistura tons quentes e frios, criando um clima festivo e acolhedor típico de festas populares.
Grupo Mulher Forrozeira no palco do CCJF, com repertório em homenagem a Chiquinha Gonzaga, Carmélia Alves e Ceiça Moreno

O universo feminino conspirando a favor da música no CCJF

As atrações musicais, dentro da Mostra Mulheres em Cena — que celebrou o protagonismo feminino na arte e cultura —, mostraram a que vieram na programação de março do CCJF. Entre as apresentações oferecidas ao público, destacamos na Vitral Cultural deste mês, três delas: os shows do grupo Mulher Forrozeira, Copas Fora, de Luísa Lacerda, e Acorde Vocal, que dessa vez trouxe apenas mulheres no coro. Abaixo, um pouco do que foram esses espetáculos inesquecíveis.

Mulher Forrozeira

Era uma quarta-feira, dia 12 de março, quando o grupo Mulher Forrozeira, criado com a missão de valorizar e promover a presença das mulheres na música, especialmente dentro do universo do forró — que historicamente tem sido majoritariamente masculino —, subiu ao palco do Teatro do CCJF. Logo, a conexão do público com as musicistas foi percebida no ambiente caloroso. É de se esperar, pois o projeto não é apenas musical (trio, banda e roda), mas sim um movimento de resistência, empoderamento feminino e celebração, conforme destaca Mirele Guedes, diretora, compositora, voz e percussão do Mulher Forrozeira. “Nosso objetivo vai além do palco: queremos inspirar outras mulheres a ocuparem seus espaços, seja na música, na produção cultural ou em qualquer outra área”, destaca, ao explicar que a cada apresentação buscam homenagear mulheres que abriram caminhos e fortalecer uma nova geração de artistas. Nesta apresentação, as homenageadas foram Chiquinha Gonzaga, Carmélia Alves e Ceiça Moreno.

Para Mirele, fazer parte da Mostra Mulheres em Cena foi uma oportunidade para reafirmar a missão do grupo e dialogar com um público que reconhece e apoia essa representatividade. “Apresentar-nos no Centro Cultural Justiça Federal foi um marco, pois reforçou a importância de ocuparmos espaços culturais institucionais e prestigiarmos iniciativas que promovem o empoderamento feminino através da arte”, disse. No show, o público pôde dançar, interagir e se emocionar com as canções, o que para as artistas é a melhor resposta ao trabalho. “Foi uma experiência que reafirmou a potência do nosso projeto e a importância de levar essa energia e essa mensagem para diferentes espaços. Agradecemos a todo o público, que esteve presente e celebrou, com alegria, a força feminina no Forró! “, completou Mirele.

Pessoa sentada em um palco escuro, tocando violão e cantando ao microfone. Ela usa uma roupa estampada e está concentrada na apresentação. Há partituras à sua frente e equipamentos de som ao redor. A iluminação foca apenas nela, destacando a performance musical em um ambiente intimista.
Luísa canta canções que inspiram a celebração da amizade, sensibilidade e construção de novos mundos por meio da arte

Copas Fora, de Luísa Lacerda

No dia 19 de março (quarta-feira), foi a vez de Luísa Lacerda, com o show Copas Fora, trazer para o Teatro do CCJF um repertório marcado por canções — algumas inéditas — compostas com notável sofisticação melódica, harmônica e poética assinadas por compositores contemporâneos. Para a apresentação, que fez parte da Mostra Mulheres em Cena, a musicista convidou dois parceiros: a violoncelista Maria Clara Valle e o violonista Lucas Gralato. A intenção do show foi realizar um encontro musical que celebrasse a amizade, a sensibilidade e a construção de novos mundos por meio da arte. Para o público presente no evento, esse objetivo foi alcançado com louvor. “Foi um evento corajoso e belo o show da Luísa Lacerda. Corajoso porque belo. Belo porque corajoso. Luísa conduz, com afinação perfeita e sentimento puro, um repertório todo sinuoso e novo. Se alguém pensa que a música brasileira parou, este sim é que parou — e bem que poderia se deixar dinamizar pelo canto e pelo violão da Luísa Lacerda”, pontuou Thiago Amud, compositor e um dos espectadores ilustres do show.

Sobre a importância do protagonismo feminino na cena cultural, Luísa percebe, atualmente, uma mudança significativa — ainda que não em todos os espaços de música —, em relação à visibilidade e valorização das mulheres. “Estamos longe de ter uma equidade entre os gêneros no que diz respeito às oportunidades, porém, hoje temos uma rede de apoio mais fortalecida para falar sobre essa disparidade e sobre situações de machismo que vivenciamos no meio musical”, ressaltou. Para ela, artistas mulheres, apesar da qualidade musical, ainda passam por constrangimentos como o tratamento desrespeitoso de homens “músicos ou técnicos desrespeitosos” ou outros que se acham superiores e querem ensiná-las como fazer o próprio trabalho. “Isso tudo está sendo contestado com mais vigor em diversos segmentos e devemos permanecer assim até que não seja mais necessário termos, por exemplo, uma programação só com mulheres. Por enquanto, iniciativas como essa são muito bem vindas e necessárias”, destacou Luísa.

Grupo de mulheres se apresenta no palco de um teatro, sob luzes azuis e iluminação frontal. A maioria usa roupas em tons de rosa e vermelho. Uma pessoa conduz o grupo da plateia, que está cheia e em silêncio. A cena é vista do fundo do auditório, com foco na performance musical.
Acorde Vocal prestigia a programação da Mostra Mulheres em Cena trazendo apenas mulheres no coro

Acorde Vocal canta Clássicos da MPB

No dia 22 de março (sábado), o grupo Acorde Vocal lotou o Teatro do Centro Cultural Justiça Federal (CCJF) com uma apresentação de marejar os olhos e esvaziar os pulmões. Um espetáculo em homenagem aos clássicos da MPB, relembrou grandes nomes da música brasileira e fez parte da Mostra Mulheres em Cena. O grupo de vozes femininas, na ocasião, regido por Nayana Torres Pereira, contagiou o público todo — houve até quem se arriscou a cantar as melodias. Ao final da apresentação, o grupo distribuiu a letra da canção “Novo Tempo”, de Ivan Lins e Vitor Martins, e o Teatro se transformou em um grande coral. A música, então, preencheu o lugar, sendo cantada por vozes emocionadas e esperançosas. O show estava completo. Vozes do palco e das poltronas transformaram a atmosfera do CCJF em pura alegria, tornando a experiência do público, que além de assistir fez parte do espetáculo, inesquecível.

Encantada com o evento, Nayana evidenciou a importância de uma apresentação formada apenas de mulheres que, principalmente, fortalece a luta feminina e ressalta o protagonismo delas. “Teremos mais projetos com mulheres, sim, porque os homens, a vida inteira, ocuparam muito mais os espaços. Então, agora, é a reparação histórica, é nossa vez de ocupar esses lugares", pontuou a musicista.

A diretora musical e regente oficial do grupo, Cris Dellano, destacou a sensação de se apresentar no CCJF e o quão especial foi esse momento. “No CCJF, nossa apresentação foi muito especial, com casa cheia e o público interagindo com a gente, nesse espaço tão acolhedor que é o teatro do CCJF. Uma apresentação intimista, para 100 pessoas, mas com a atmosfera de que estávamos nos apresentando na sala de casa!”, declarou a regente.