Maestro Selvagem: chamado democrático do maestro da abolição
No mês de outubro, o Centro Cultural Justiça Federal abriu as portas do teatro para receber um dos maiores maestros compositores do país, Carlos Gomes, ou melhor, Luciano Quirino, seu intérprete, na peça Maestro Selvagem, de Miriam Halfim.
Com vestimentas arcaicas, como um paletó marrom e um cachecol, que maquiavam um jeans azul escuro e uma blusa branca simples, o ator transportava o público para um cenário escravocrata, plano de fundo da vida de Carlos Gomes, o primeiro compositor de ópera brasileiro a ter suas obras apresentadas em Milão, no Teatro alla Scala.
Sua trajetória de vida foi então projetada diante dos olhos da plateia que contemplava o espetáculo de atuação de Luciano Quirino, ator que resgatou a essência de um artista controverso completamente apaixonado pela mãe. O som de notas românticas ecoou o nome de Carlos Gomes pelo CCJF, assim como seu nome ecoa até hoje na história da ópera nacional. É como uma fala do maestro, que pode ser ouvida no espetáculo: "não há como contar a história da ópera no Brasil sem citar meu nome".
Com um jogo de luz que ajudou a traduzir os sentimentos do compositor em diferentes momentos da peça, aliado a um entusiasmo cativante, Quirino coloriu a imagem de um artista pouco lembrado, um homem negro que fez história quando em terras brasileiras ainda povoavam leis que isolavam os negros do restante da sociedade. Um espetáculo inesquecível, que destaca a perseverança de um maestro negro a favor do movimento abolicionista que conseguiu sucesso na Europa e valorizou a musicalidade brasileira.