Pular para o conteúdo principal
NewsletterLogomarca VITRAL CULTURAL

Deboche: a peça que faz do público o principal personagem

Publicado em:
10/03/2025
Cena de teatro com duas drag queens em um palco iluminado. Uma está sentada em uma cadeira transparente, vestindo verde e usando um leque amarelo. A outra, de pé, usa vestido preto, meia rendada e peruca loira, segurando um microfone. O fundo tem cortinas drapeadas, biombos e objetos de cena.
No palco,  os irreverentes atores de Deboche se apresentam arrancando risos da platéia

Durante os meses de janeiro e fevereiro, a peça Deboche - A Tragédia, movimentou o Centro Cultural Justiça Federal (CCJF) com uma temporada cheia de humor e, é claro, muito deboche. A peça de Thiago Chagas e Celso Andre é, desde o começo, uma via de mão dupla, passando a mensagem de que não há espetáculo sem público. Os espectadores são induzidos a participar desde que colocam os pés no teatro do CCJF. Os atores querem saber quem é cada um ali, estimulam que o público aplauda suas sacadas criativas e que, principalmente, ria de uma piada brilhante — e acredite, são muitas. 

Com esquetes divertidas, o espetáculo instiga a sociedade e todos que o assistem. Não há como não responder a todas as provocações, mesmo as mais sutis. O público se faz protagonista da peça enquanto  as risadas são a trilha sonora. “Dona Fernandona”, personagem inspirada na atriz Fernanda Montenegro, marcou presença e deixou todos chocados com o talento de Thiago Chagas, que parecia ter, de fato, encarnado a atriz brasileira. A Foragida do Nosso Lar, interpretada por Celso André, é uma das personagens que interagem diretamente com um escolhido da plateia. Ela senta no colo e conversa com o “sortudo”. 

Logo no início da peça, Celso André adverte: "risada não é para engolir, é para cuspir”. O espetáculo faz, por pouco mais de uma hora, o público ver o lado bom das tragédias de um país que, assim como os atores e roteiristas, encontra no deboche uma forma de sobreviver e resistir aos percalços da vida todos os dias.

Felipe Souza, estudante de Cinema da Universidade Federal Fluminense (UFF), assistiu à peça na última semana da temporada. “Quando penso na peça, penso instantaneamente no contraste de uma peça experimental interativa, que normalmente afasta algumas pessoas, mas que tem performances tão boas, que deixam absolutamente todos confortáveis. Os dois atores interagiram diretamente comigo quando entrei no teatro — eles estavam subindo no palco e falaram ‘vem, vem, vem', sem me deixar minimamente desconfortável, na verdade foi até engraçado e carinhoso”, lembra.  Ele também ressalta que os dois atores  são hilários e geniais, trazendo referências bem nichadas do mundo queer. “São referências clássicas ao cinema com Crepúsculo dos Deuses e de tragédias gregas como Medea e Édipo", pontuou o estudante. 

No dia 13 de fevereiro, a peça recebeu visitas ilustres da Central de Recepção de Idosos Pastor Carlos Portela. Cremildo de Almeida Melo Júnior, educador que acompanhou o grupo de idosos, destacou que, de um modo geral, a maioria do grupo gostou muito da experiência. “Nós, educadores, olhávamos para o rostinho deles e víamos nas expressões de cada um o reflexo do espetáculo. Um exemplo vivo de apreço foi a participação do senhor Paulo, que entrou no espírito da peça e deixou se envolver”, concluiu Cremildo.