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As cartas entre Drummond e sua filha, encenadas em um sensível monólogo

Publicado em:
12/08/2024
Na foto, uma mulher branca olha fixamente para a câmera com a boca levemente aberta. Ela possui cabelos ondulados pretos um pouco abaixo dos ombros; usa terno preto e blusa de botão branca. Está apoiada em uma mesa de madeira com tampo de vidro que possui vários livros em cima. Ao fundo, um ambiente que parece ser de uma biblioteca, com várias estantes de estrutura de ferro com inúmeros livros organizados.
A atriz Sura Berditchevsky no ambiente da biblioteca do CCJF

Um misto de cuidado, cumplicidade e amor. Em resumo, essa era a relação de Carlos Drummond de Andrade, considerado por muitos o mais importante poeta brasileiro do século XX, e a filha, a escritora Maria Julieta. Além disso, ambos partilhavam da mesma paixão: a escrita, símbolo da maior demonstração de amor entre os dois. O espetáculo solo Cartas de Maria Julieta e Carlos Drummond de Andrade encenado e dirigido por Sura Berditchevsky — com codireção de Fernando Philbert —, em cartaz no Centro Cultural Justiça Federal (CCJF) até dia 25 de agosto, propõe mergulhar na intimidade da relação familiar entre pai e filha. “Desde 2011, o espetáculo foi encenado nos mais variados espaços, grandes e pequenos, mas esse pouso na Sala de Leitura do Centro Cultural da Justiça Federal está sendo uma experiência muito significativa para mim. É como se o espetáculo tivesse essa identidade, essa cara. Me sinto no lugar certo, estou ali na biblioteca, entre os livros e em uma intimidade muito grande com o público que vai assistir”, conta Sura ao descrever como está sendo a temporada da peça no CCJF.      

A partir da pesquisa de mais de um ano e a leitura da correspondência inédita do poeta e da sua única filha, a atriz interpreta a cartas trocadas entre eles durantes 50 anos, seguindo a linha cronológica de uma vida inteira: infância, adolescência e vida adulta de Maria Julieta, desde os primeiros desenhos e bilhetes até cartas e crônicas. Com idealização de Pedro Drummond, neto do poeta, o monólogo tenta recriar a atmosfera do gabinete de trabalho dos dois escritores. Dentre os assuntos das correspondências, estão temas triviais até instigantes comentários sobre literatura, música, arte, cinema e o bairro de Copacabana, local em que Drummond viveu por um longo período. Sobre a concepção do espetáculo, Sura comenta que apesar de se basear na leitura das correspondências, também costuma utilizar recursos como animação gráfica, documentos e a trilha sonora, que conta inclusive com músicas que os dois escutavam.  

Na apresentação dentro da Sala de Leitura, a atriz diz que abriu mão de alguns recursos de plasticidade cênica para estar mais integrada ao ambiente da biblioteca. Mas isso não prejudicou o espetáculo, pelo contrário, só ampliou a troca com o público. “Veio para somar e levar junto ao público a proximidade e intimidade que a correspondência dos dois tem. É como se estivéssemos juntos revelando essa troca de afeto. A cada espetáculo é um dia novo, um público diferente…mas a reação de quem assiste é muito parecida no que diz respeito à emoção”, destaca a atriz, que completa: “de certa maneira, é como uma viagem no tempo na cidade do Rio de Janeiro, nos anos 1930, 1940, 1950”.

Após as sessões, é realizado um bate-papo com o público sobre o processo de criação (leitura das cartas, construção da dramaturgia e encenação). Venha conferir esse espetáculo imperdível que acontece todas às quintas, sextas e sábados, às 18h e domingos às 17h, até o dia 25 de agosto, na Sala de Leitura do CCJF. A classificação indicativa é 12 anos. Ingressos a R$40 (meia, R$20). Para compra antecipada, basta clicar aqui