As cartas entre Drummond e sua filha, encenadas em um sensível monólogo
Um misto de cuidado, cumplicidade e amor. Em resumo, essa era a relação de Carlos Drummond de Andrade, considerado por muitos o mais importante poeta brasileiro do século XX, e a filha, a escritora Maria Julieta. Além disso, ambos partilhavam da mesma paixão: a escrita, símbolo da maior demonstração de amor entre os dois. O espetáculo solo Cartas de Maria Julieta e Carlos Drummond de Andrade encenado e dirigido por Sura Berditchevsky — com codireção de Fernando Philbert —, em cartaz no Centro Cultural Justiça Federal (CCJF) até dia 25 de agosto, propõe mergulhar na intimidade da relação familiar entre pai e filha. “Desde 2011, o espetáculo foi encenado nos mais variados espaços, grandes e pequenos, mas esse pouso na Sala de Leitura do Centro Cultural da Justiça Federal está sendo uma experiência muito significativa para mim. É como se o espetáculo tivesse essa identidade, essa cara. Me sinto no lugar certo, estou ali na biblioteca, entre os livros e em uma intimidade muito grande com o público que vai assistir”, conta Sura ao descrever como está sendo a temporada da peça no CCJF.
A partir da pesquisa de mais de um ano e a leitura da correspondência inédita do poeta e da sua única filha, a atriz interpreta a cartas trocadas entre eles durantes 50 anos, seguindo a linha cronológica de uma vida inteira: infância, adolescência e vida adulta de Maria Julieta, desde os primeiros desenhos e bilhetes até cartas e crônicas. Com idealização de Pedro Drummond, neto do poeta, o monólogo tenta recriar a atmosfera do gabinete de trabalho dos dois escritores. Dentre os assuntos das correspondências, estão temas triviais até instigantes comentários sobre literatura, música, arte, cinema e o bairro de Copacabana, local em que Drummond viveu por um longo período. Sobre a concepção do espetáculo, Sura comenta que apesar de se basear na leitura das correspondências, também costuma utilizar recursos como animação gráfica, documentos e a trilha sonora, que conta inclusive com músicas que os dois escutavam.
Na apresentação dentro da Sala de Leitura, a atriz diz que abriu mão de alguns recursos de plasticidade cênica para estar mais integrada ao ambiente da biblioteca. Mas isso não prejudicou o espetáculo, pelo contrário, só ampliou a troca com o público. “Veio para somar e levar junto ao público a proximidade e intimidade que a correspondência dos dois tem. É como se estivéssemos juntos revelando essa troca de afeto. A cada espetáculo é um dia novo, um público diferente…mas a reação de quem assiste é muito parecida no que diz respeito à emoção”, destaca a atriz, que completa: “de certa maneira, é como uma viagem no tempo na cidade do Rio de Janeiro, nos anos 1930, 1940, 1950”.
Após as sessões, é realizado um bate-papo com o público sobre o processo de criação (leitura das cartas, construção da dramaturgia e encenação). Venha conferir esse espetáculo imperdível que acontece todas às quintas, sextas e sábados, às 18h e domingos às 17h, até o dia 25 de agosto, na Sala de Leitura do CCJF. A classificação indicativa é 12 anos. Ingressos a R$40 (meia, R$20). Para compra antecipada, basta clicar aqui.