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A arte como linguagem vital da natureza

Por Manu Alves, artista e escritora
Publicado em:
10/10/2025
Alt em construção

"Como artista, acredito que a arte é um canal potente para despertar empatia e gerar encantamento com a natureza, ao mesmo tempo em que escancara a crise ambiental e grita para reconectar o ser humano à teia da vida da qual ele faz parte."

A arte exerce um papel fundamental na construção da sociedade. Através de obras que provocam novas formas de olhar o mundo e fazem refletir sobre diferentes questões, nos entendemos como responsáveis e pertencentes a um todo. Quando falamos em meio ambiente, a arte assume um papel provocador, propondo a reflexão individual e coletiva sobre nossas ações. 

Como artista, acredito que a arte é um canal potente para despertar empatia e gerar encantamento com a natureza, ao mesmo tempo em que escancara a crise ambiental e grita para reconectar o ser humano à teia da vida da qual ele faz parte, afinal, a natureza não é cenário. É sujeito. E sem ela, não há futuro possível.

Nos últimos 8 anos, venho me dedicando a refletir especialmente sobre os polinizadores, em especial as abelhas nativas sem ferrão do Brasil. São mais de 250 espécies espalhadas em nosso território, mas parecemos desconhecê-las por completo. São agentes silenciosos da biodiversidade. Despercebidos em meio a cidade e escondidos na abundante natureza. Ainda posso definir o que resta da natureza como abundante? De qualquer forma, é preciso destacar que a existência humana é dependente das abelhas, e o trabalho de polinização feito por elas sustenta a cadeia alimentar e proporciona o equilíbrio ambiental. 

Perda de habitat, uso excessivo de agrotóxicos, mudanças climáticas. Estamos perdendo a biodiversidade do planeta sem nem conhecê-la. Sem entendermos a nossa responsabilidade nisso tudo e em reconhecermos que fazemos parte desse todo. 

Foi com esse sentimento de urgência e reverência que criei o “Monumento à Biodiversidade Brasileira”. Em uma caixa de meliponicultura, onde são criadas – pelo homem – abelhas sem ferrão, esculpi diversos pitus, que são as entradas dos ninhos construídas por essas abelhas. Cada espécie molda um pitu com materiais e formatos diferentes, então busquei representar a unicidade de cada uma delas. Um trabalho lúdico que enaltece e divulga a existência destes pequenos seres e que é, ao mesmo tempo, homenagem e alerta. É uma tentativa de tornar visível o que tem sido apagado pela velocidade da vida contemporânea. Ao colocá-lo em espaço público, como o Centro Cultural Justiça Federal, proponho uma pausa para que as pessoas se reconectem com o que pulsa fora dos prédios e das telas. A arte, nesse sentido, é ferramenta crítica, sensível e transformadora. 

Hoje, mais do que nunca, precisamos de narrativas que nos façam lembrar que a Terra não nos pertence. Nós pertencemos a ela.