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Nas águas de Cecília in Tui

Publicado em:
12/08/2024
A foto mostra uma mulher branca de cabelos presos, enrolados, dançando em um palco. Ela está com os braços abertos, esticados para os lados. Usa vestido longo preto e uma blusa com franjas, rosa, por cima. Ao fundo, dois músicos, um tocando violão e o outro instrumento de percussão. Do lado direito, há parte de um piano de cauda preto. Acima, no teto, pequenas luzes pisca-piscas e a iluminação do palco em tons de azul e amarelo.
A multiartista Cecília Salles, no Teatro do CCJF, acompanhada de Georgia e Luciano Camara, na percussão e guitarra flamenca

Quem já precisou vivenciar um sonho — uma experiência profunda — para correr atrás de outro sonho, tão fundamental quanto o primeiro? Foi assim, decidindo surfar sozinha, no mar de Saquarema, Região dos Lagos do estado do Rio de Janeiro, que Cecília Salles, musicista e dançarina, concluiu que precisava construir um espetáculo criado apenas por ela, com elementos que a alma dela tivesse vontade de dizer. “Foi muito emocionante fazer esse movimento de começar a pegar onda sozinha, após algumas aulas. Isso me deu uma força e uma coragem que fazia tempo que eu não sentia. E lembro que uma vez, saindo do mar, depois de pegar uma onda linda, pensei ‘gente, porque eu tenho coragem de fazer isso mas não consigo subir em um palco sozinha, em um projeto só meu?’”, conta Cecília que costumava trabalhar de forma segmentada, no projeto de outras pessoas. Era coisa do destino, pois na mesma semana que foi sucumbida por esse pensamento, foi convidada pelo Centro Cultural Justiça Federal (CCJF) para se apresentar por lá. Ela reprimiu o medo, e aceitou o convite. A partir daí foram quatro meses de processo criativo intenso, cujo resultado foi a bela produção do show Cecilia in Tui, uma apresentação plástica, sonora, performática e gestual, em que a artista mergulha em um lago afetivo e traz à superfície um roteiro inusitado que deságua nos ouvidos e olhos do público por meio da voz, piano, trombone e dança flamenca. 

“Todos os dias, eu evocava as musas da criatividade e sacralizava muito esse processo e o tempo útil que eu tinha para poder trabalhar nessa construção. A sensação que dava é que era tudo muito caótico, mas ao mesmo tempo muito interessante, pois as coisas viam e iam fazendo sentido e depois, não mais. Com tudo isso, aprendi que não é caos, é cosmos. É a direção certa das coisas, é aceitar que as mudanças vão acontecer e aceitar esse fluxo, entendendo que para onde as águas realmente correm é que é o sentido mais importante”, ensina. A decisão sobre qual seria o nome do show é outra história interessante. A princípio, o projeto seria intitulado ‘Intuição’, mas durante o processo criativo, ela resolveu trazer a palavra ‘tui’, nome de um hexagrama do I Ching, oráculo chinês que a musicista tem muita afinidade e significa alegria. Ele é tão presente na vida dela que ela fez uma tatuagem desse símbolo que representa um lago espelhado, um lago sobre um lago. “Achei que foi muito acertada a escolha desse nome, porque intuição era uma palavra que estava meio desgastada, e o ‘in tui’ traz a possibilidade de duplo sentido, considerando também a conjugação do verbo intuir na terceira pessoa (intui)”, explica. 

Show no CCJF — Após todo esse processo, Cecília se apresentou nos palcos do teatro do CCJF, no último dia 9 de julho. No show Cecília in Tui, transmitido ao vivo pelo Youtube CCJF — ainda disponível no canal e com mais de 700 visualizações —, a multiartista aborda o elemento água como marco inicial de todos os sons. A imersão é o resultado do seu primeiro projeto solo, com direção de produção de Elissandro de Aquino (Viramundo Produções) e direção de movimento e dramaturgia de Eliane Carvalho (Studio Gesto). A apresentação no CCJF contou com a participação especial de Georgia e Luciano Camara, na percussão e guitarra flamenca, respectivamente. No programa, canções de autoria própria e compositores nacionais e internacionais, como Matthew Halsall, Melanie de Biasio, Ceumar Coelho e Nelson Cavaquinho.  No dia do evento, um desafio. O Centro do Rio de Janeiro ficou sem água, impossibilitando realizar o evento com público, por isso, a escolha — que depois se mostrou super acertada, segundo Cecília — em transmitir ao vivo pelo canal do YouTube. “A sala do CCJF tem 140 lugares e o vídeo tem mais de 700 visualizações. Então, foi uma felicidade muito grande ver o que aconteceu. Foi muito desafiador, mas ao mesmo tempo muito fluido. No final das contas, foi fácil pois o palco para mim é um dos lugares mais confortáveis da vida. É muito contraditório dizer isso, mas é o que eu amo fazer, então os desafios ficam pequenos perto da realização que é estar em cena para mim”, conclui. Ainda há tempo de conferir tanta fluidez em formato de show. Clique aqui e assista.