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Notícia

Em encontro no CCJF, Guga Chacra, jornalista internacional, traça panorama sobre Líbano e conflitos no Oriente Médio

Publicado em:
24/07/2025
Auditório nobre com teto ornamentado e afrescos, paredes com molduras e luminárias pendentes. O espaço está cheio de pessoas sentadas, voltadas para o palco ao fundo, onde ocorre uma palestra. À direita, há um telão com a imagem do jornalista Guga Chacra e os dizeres “Encontros Acadêmicos”. O ambiente é solene e bem iluminado.

Na última quinta-feira, dia 24, o Centro Cultural Justiça Federal (CCJF) recebeu, na Sala de Sessões, a série Encontros Acadêmicos, promovida pela Academia Líbano-Brasileira de Letras, Artes e Ciências (ALB). O convidado desta vez foi o jornalista e comentarista internacional Guga Chacra, que ocupa a cadeira 27 da Academia.

Com o tema O Líbano: Panorama Atual e Perspectivas, o evento promoveu um diálogo aberto sobre a situação contemporânea do país e suas possíveis trajetórias futuras, a partir da análise de um dos mais respeitados especialistas brasileiros em política internacional. Na abertura do evento, a advogada Renata Abalém, secretária-geral da ALB, agradeceu ao Dr. Theophilo Miguel, diretor-geral do CCJF, desembargador federal e membro da ALB pela acolhida, e saudou os demais membros, colaboradores, correspondentes e afiliados da Academia, com destaque ao embaixador Alejandro Bitar, membro-fundador da Academia, presente no encontro.

Hoje, segundo a Associação Cultural Brasil-Líbano, estima-se que, entre cidadãos e descendentes, a população libanesa no Brasil some 8 milhões de pessoas, número que ultrapassa até mesmo a população do próprio Líbano — de aproximadamente 5,5 milhões de habitantes. “Por isso, se você não tem sangue libanês, você certamente terá alguém na família com sangue libanês, no presente ou no futuro, devido à miscigenação”, ressaltou Dr. José Roberto Tadros, presidente da ALB, na abertura do encontro. 

Ao trazer sua visão sobre o cenário atual do Líbano, Guga Chacra, especialista na cobertura do Oriente Médio, fez uma linha do tempo relativamente recente das guerras entre o Hezbollah, força política libanesa, e Israel, ocorrida principalmente no Sul do Líbano, entre os anos 90 a 2000, e após, em 2006 e 2024, sem esquecer-se de outro episódio que causou um colapso econômico no país: a explosão do Porto de Beirute, em 2020, considerada a maior explosão não atômica da história mundial e que ainda está sendo investigada. “O Líbano é um país que acabou se tornando palco de muitas guerras. Hoje, ele ainda tenta se reerguer do colapso da economia, uma das crises mais extremas de todo o mundo atualmente. O novo governo cujo presidente, Joseph Aoun, foi comandante das forças armadas desfruta de um respeito grande; o primeiro ministro, Nawaf Salam, que foi presidente do Tribunal Penal Internacional de Haia, também é uma figura bastante respeitada. Eles estão tentando recuperar o país”, explica.

Ao partilhar do papo com Guga, Kátia Chalita, profissional de mídia e vice-presidente da ALB, indagou sobre quais seriam os caminhos para uma reconstrução ideal e estabilidade no Líbano. Para Chacra, a saída seria o governo aproveitar o momento, depois de muitas décadas, em que o Hezbollah está enfraquecido para tentar reverter a insegurança, a crise econômica e a instabilidade política naquele país do Oriente Médio. Porém, ele também destaca que pode ser ainda mais difícil a reestruturação libanesa, se considerada a questão territorial já que o país é vizinho da Síria e de Israel, duas nações que possuem lideranças e regimes complexos. “Em 2006, o Hezbollah saiu muito forte da guerra e a influência dele ficou evidente até outubro do ano passado. Ao fazer uma aliança com os principais grupos cristãos libaneses, ele acabou levando adiante uma agenda que não era necessariamente a agenda do Líbano, ficou muito focada em Teerã”, diz ao mencionar que o momento atual é o primeiro período em que o Hezbollah está enfraquecido, na prática, pois perdeu seu líder carismático Hassan Nasrallah, assassinado por Israel em ataque aéreo em 2024. “Então, o presidente e o primeiro ministro tem tudo na mão para reerguer o Líbano, mas sabemos que não depende apenas do país, que possui uma vizinhança extremamente complicada: a Síria, que tem um regime radical, e Israel, que já destruiu boa parte do território libanês e é aliado à maior potência mundial da atualidade, os Estados Unidos. O Líbano, de alguma forma, tem que navegar no novo cenário geopolítico, porém é um país pequeno e pobre, com a pior vizinhança possível”, ressalta.

O encontro também abriu espaço para o público, que lotou a Sala de Sessões, levando perguntas ao jornalista. Uma delas foi sobre o cenário de disputas territoriais e religiosas que toma boa parte do Oriente Médio há anos. De acordo com Chacra, é preciso diferenciar a questão dos conflitos de Israel com a Palestina, e Israel com os demais. “Israel ocupa a Cisjordânia sem dar cidadania aos palestinos de lá que viraram uma espécie de subclasse. Hoje, são 3 milhões de palestinos na Cisjordânia. Os colonos judeus estão muito poderosos na coalizão de Netanyahu (primeiro ministro de Israel). A ocupação na Cisjordânia é um absurdo, não tem como justificar. O grande problema é Gaza e Cisjordânia; o restante acho que está dentro da ‘normalidade’ de conflitos internacionais”, pontuou.