Pular para o conteúdo principal
NewsletterLogomarca VITRAL CULTURAL

Afetos Cítricos: um oportuno manifesto da música afro, pop e diversa

Publicado em:
10/07/2025
O cantor Àrt se apresenta no show Afetos Cítricos, usando um figurino dourado brilhante e óculos escuros. Ele canta ao microfone enquanto toca violão, com folhas verdes a frente do instrumento. A iluminação destaca sua performance intensa e expressiva contra o fundo escuro, criando uma atmosfera vibrante e performática.
ÀRT performando no show "Afetos Cítricos", no palco do CCJF

Um show plural, com uma rica variedade de ritmos, entre soul, R&B, samba e rock. Em um único ato, uma apresentação que legitima a musicalidade de um autêntico e talentoso artista que se inspira em suas vivências amorosas e das relações homoafetivas. A breve definição do que foi Afetos Cítricos — primeiro show completo do cantor, compositor e multiinstrumentista ÀRT, que contou com toda a banda, figurino e produção de primeira qualidade —, dá a dimensão da experiência vivida por quem estava na plateia do Teatro do Centro Cultural Justiça Federal (CCJF), no último dia 29 de junho. O show, traduziu, em música e performance, as complexidades das emoções humanas ao oferecer uma jornada sensorial, reflexiva e tocante.

Parte do II Festival Identidade em Cena, a ideia do projeto Afetos Cítricos começou intimista, com apenas voz e violão, e aos poucos, com um rede de apoio e vontade de fazer mais, acabou se tornando um show maior, algo que, conforme descreveu ÁRT, “se tornou uma potência, que ainda está sendo reverberada”. “É a oportunidade de legitimar minha musicalidade em vários idiomas, em um único ato. É um show que mostra meu lado compositor, conta as minhas músicas que muitas vezes falam sobre os homens que eu amei e fui feliz, e os que eu amei e sofri, além de considerar toda a conjuntura social que permeia na minha rotina em ser um homem gay, preto, de favela e afeminado”, pontua o artista. Para ele, essas são quatro características que fazem com que seu corpo, sua persona, seja projetada em um lugar de objetificação que não é exatamente o que ele é. “Com essa leitura também fui entendendo quais são os olhares dos corpos que me enxergam não apenas como corpo, mas como ser humano e, por isso, que há muito esse ‘lugar’ nas minhas apresentações”, explica, ao comentar que essa vivência faz com que as canções compostas sejam legítimas, virando algo muito vivo no palco, que faz com que todas as adversidades valessem a pena.

Valéria Martins, escritora e agente literária à frente da Oasys Cultural, pôde entender e sentir a crônica sensível que Afetos Cítricos ofereceu ao público do CCJF. Segundo ela, foi uma linda surpresa descobrir “o artista incrível que é o ÀRT”. “Eu não sabia que ele compõe todas as músicas, e uma variedade de ritmos. Ele também toca, dança, dirige e arranja. Acompanhado de uma banda afinadíssima e muitíssimo bem ensaiada, transformou minha tarde de domingo em um verdadeiro show”, ressaltou.

Sobre a importância de centros culturais como o CCJF incentivar a cultura popular, o artista aborda a questão lembrando de uma canção da cantora paranaense Maricel Ioris cujo um trecho diz que “aquele que toca e canta precisa dos aplausos e dos bises”. “Eu amplifico essa frase dizendo que aquele que faz arte precisa de palco, ela precisa ser propagada para fora, senão aquilo vira uma loucura, um grito seco, na verdade um grito que fica contido dentro de você”, comenta. Para ÀRT, ter centros culturais como o CCJF, onde há acesso para uma massa de artistas poder propagar e legitimar sua arte, é extremamente fundamental e plural. “Porque se ficássemos limitados a oportunidades em lugares onde você já precisa estar famoso para tocar, onde haveria a validação do seu trabalho? Como ele seria registrado e propagado? Então, a importância é inefável, gigantesca”, conclui.