Abertura da exposição Gabinete Selarón de Curiosidades no CCJF atrai visitantes para conhecerem obras do multifacetado artista chileno Jorge Selarón

No último dia 25 de junho, as galerias do 2º andar do Centro Cultural Justiça Federal (CCJF) se encheram de vida e cores, características de um artista único conhecido na cidade do Rio de Janeiro pela sua obra máxima: a Escadaria Selarón, localizada na Lapa, que virou ícone turístico e patrimônio cultural. A mostra Gabinete Selarón de Curiosidades: os Degraus para a Gestão Compartilhada da Escadaria Selarón reúne 370 pinturas — além de fotografias, rascunhos e azulejos, revelando o olhar cosmopolita do artista chileno Jorge Selarón que transformou os 215 degraus da escada do Convento de Santa Teresa em um mosaico vivo, com 4.994 azulejos de 165 países.
São cinco galerias com obras de Selarón — que depois de viajar mais de 50 países, escolheu o Brasil como casa —, retratando a paixão do artista pela Cidade Maravilhosa, com reproduções autênticas da Cinelândia, da Lapa e da Central do Brasil, por exemplo, além das famosas mulheres grávidas — uma das personagens mais retratadas pelo artista em suas milhares de obras —, paisagens e auto retratos que mostram o amor de Selarón pelo Rio e pela arte contemporânea.
A abertura da exposição contou com a presença do diretor-geral do CCJF, Dr. Theophilo Miguel, o cônsul do Chile no Rio de Janeiro, Carlos Javier Marin, os curadores Andre Angulo, Marcelo Esteves, Ceci Maciel, Ester Galleguillos, Guilherme Guimarães e Gerardo Millone, além de outros convidados e público. Dr. Theophilo Miguel destacou a importância do artista, “um visionário, sonhador incansável que encontrou nos azulejos e nas cores uma linguagem para expressar sua obra e se conectar com o povo.” Para ele, a Escadaria Selarón é símbolo de criatividade, diversidade e união entre culturas. “É uma mostra viva do profundo laço afetivo entre Chile e Brasil. Essa exposição não só celebra seu legado artístico, mas também sua história de vida, marcada pela paixão, esforço e generosidade. Que a exposição seja não só uma experiência estética, mas também um ponto de diálogo, inspiração e fraternidade. Viva a arte, viva Selarón!”, exclamou.
Angulo, um dos curadores da exposição e fundadores da Liga Independente dos Guias de Turismo do Rio de Janeiro (LiGuia-RJ), realizadora da mostra, ressaltou a urgência em levantar alternativas para angariar recursos em prol da preservação, manutenção e pesquisa de patrimônios culturais cariocas, já que os investimentos da administração pública não são suficientes para mantê-los bem conservados. “Estamos propondo uma nova lógica em relação a possibilidade da arrecadação de recursos (...) o que a gente necessita e quer plantar uma semente na cabeça de todos é pensarmos na possibilidade de instruir processos de governança compartilhada de patrimônios públicos lastreados em fundos patrimoniais”, ressaltou ao citar, como caminho para a iniciativa, a Lei 13.800 que dispõe sobre a constituição de fundos patrimoniais com o objetivo de arrecadar, gerir e destinar doações de pessoas físicas e jurídicas privadas para programas, projetos e demais finalidades de interesse público.
Na sequência, Ceci, também curadora e amiga de Selarón, falou sobre a personalidade excêntrica e artística de Selarón, que era, segundo ela, muito comprometido com o trabalho. Além disso, destacou o quanto a escadaria valorizou a rua onde está localizada, “antes escura e perigosa” e o próprio bairro da Lapa. “Vimos a evolução dessa Lapa junto dessa obra. Quero chamar a atenção para que desfrutem dessas salas, temos várias etapas da vida de Selarón e sua vida de artista. Com essas pinturas sobre a Lapa e o Rio, ele valorizou algo maravilhoso, que hoje estamos dando continuidade”, destacou. E completou: “Ele dizia: ‘quando eu morrer, gostaria de ter uma nota no jornal, uma lembrança mencionando o artista’, e depois ele realmente foi a primeira página em todos os jornais. Onde ele estiver, eu sei que ele vai estar sorrindo e tranquilo porque hoje ele é reconhecido”, disse, emocionada.
Ao celebrar o legado de Selarón, Marin, do Consulado Geral da República do Chile, instituição patrocinadora da exposição, lembrou que o artista foi mais do que o criador de uma linda escadaria, destacando que a mostra convida o público a conhecer o Selarón em sua dimensão mais íntima: as pinturas e obras dedicadas a outros cantos do mundo, inclusive, a cidade portuária histórica Valparaíso do Chile, terra natal de Selarón. “A relação dele com o Rio foi profunda, sincera e apaixonada. Ele escolheu essa cidade como lar e fez aqui seu espaço de criação. Sua arte se tornou uma poderosa ferramenta de união entre os povos, uma janela aberta ao mundo a partir da sensibilidade do artista chileno que amou profundamente o Brasil. Aqueles que visitam a escadaria ano após anos poderão agora complementar sua experiência ao conhecer o universo mais pessoal de Selarón, suas angústias, seus sonhos e seu olhar único sobre a vida”, pontuou.
Entre as homenagens ao artista, foi criada, no estacionamento do CCJF, uma arte interativa de um grafite de Selarón pelos ativistas da cultura periférica, João Paulo (Minero, @minerotattooart), Robert (Múmia, @vidanove) e Lucas (Caslu, @casluink) do Movimento EDA (Escada da Arte, @movimentoeda) — movimento que transforma espaços abandonados em projetos culturais, criando novas referências e fortalecendo a identidade das áreas periféricas.
A exposição gratuita Gabinete Selarón de Curiosidades fica no CCJF até dia 10 de agosto de 2025. O CCJF funciona de terça a domingo, das 11h às 19h.